Moorea fica somente há 30 milhas de Papeete e tivemos que usar os motores para chegarmos até ela. Nesse mesmo dia, haveria um Raly de velejadores e uma regata de canoa Polinésia, ou seja, essas trinta milhas estariam cheias de barcos.
Saímos mais cedo que a galera para conseguirmos um lugar melhor no fundeio, pequeno e fundo pra burro. O mais raso que conseguimos fundear foi em 15 metros.
Mesmo não participando do Raly, acabamos participando das festas. Até baguete quentinha levaram no nosso barco. Deixávamos o nosso dingue, usávamos a internet e tomávamos banho no Hotel Bali, tudo de graça. As festas foram ótimas, rolavam brincadeiras com os velejadores o dia todo e durante a noite jantares com apresentações de dança Polinésia. As brincadeiras eram uma pagação de mico danada, mas ninguém ligava. Uma vida duuuura
Durante essas festas conhecemos o Russ, marido da Karin do catamarã Moonwalker. Acompanhamos a volta ao mundo deles, mas não nos conhecíamos pessoalmente. Como esse mundo é pequeno, a Karin nos avisou que o Russ estaria em Moorea para divulgar sua cidade na Nova Zelândia. Lembram-se que falei que os Australianos e os Neo Zelandeses competem por velejadores entre si? Então, os Neo Zelandeses patrocinavam esse Raly e as festas em Moorea.
Como o Russ já deu uma volta ao mundo, nos passou dicas preciosas dos lugares que pretendemos passar.
Moorea é um espetáculo! Caminhamos muito, alugamos um carro e passeamos pelos principais hotéis e pousadas de lá. Muitas praias ficavam dentre desses hotéis e pousadas, acabamos matando dois coelhos …
Quando eu postei fotos no facebook, a Heloísa Schurmann Formiga e o Roberto Barros (o Cabinho) comentaram que Moorea havia sido a ilha preferida deles. Só depois que chegamos a Bora Bora é que pude concordar. Moorea também foi a minha ilha preferida. Fausto gostou mais de Maupiti. Moorea têm praias tão belas quanto Bora Bora mas a parte de terra é mais bonita. Não têm nada a ver de Bora Bora ser mais turística, eu até gosto de ver gente etc.… Moorea era “mais família”, mais aconchegante.
Caminhar pela beira da estrada já rendia a feira de frutas da semana. Muitos pés de fruta plantados na beira da estrada, e era só pegar a fruta. Quando dentro de algum quintal, era só pedir. Bananas, graviola, limão, grapefruit, carambola. Fui pedir a uma senhora para pegar carambola no quintal dela e a senhora já queria que eu almoçasse com ela! Os Polinésios são muito gentis.
Para quem não conhece: Carambola
Estrada em manutenção e um semáforo para o controle de tráfego a bateria.
Alugamos o carro de uma brasileira que foi casada com um francês e mora na ilha há anos. A Sandra, uma figurassa, nos levou nos principais pontos turísticos de Moorea. Aliás, vale muito a pena alugar um carro e dar a volta na ilha.
Em uma dessas paradas, fomos em um altar que antigamente era usado para sacrifício de pessoas capturadas das tribos inimigas. Sacrificavam e depois comiam porque se acreditava que comendo o inimigo, absorviam toda a força e outras qualidades que ele tivesse. Pois bem, eu subi e tirei trocentas fotos nesse altar. Depois fomos saber que isso era proibido, podendo acarretar em até seis meses de cadeia ou fazendo trabalhos sócio-educativos.
O altar de sacrifícios e canibalismo
Nossos tripulantes José Carlos e Tânia.
Moorea é bem cultivada com plantios de frutas, verduras e hortaliças. Vimos tanques de criação de camarão, e pastos verdes com muitos bois.
Passeamos, passeamos, passeamos. Um dia sozinha no barco entrou um ventão com rajadas de 40 nós (essas coisas só acontecem quando estou sozinha). O Raly já havia acabado e a maioria dos veleiros retornado a Papeete, a ancoragem estava vazia. Ao nosso lado um catamarã de um casal de Alemães que conhecemos de vista desde Cartagena. Eles também estavam fazendo charter com um casal e um filho. Um pouco atrás de nós, uma monocasco de um casal de Americanos. Quando entrou o ventão, já fiquei pensando que se o barco garrasse, o que deveria fazer, na verdade recapitulando o passo-a-passo na emergência. Já aconteceu comigo sozinha em Fernando de Noronha com o cat de 62’ e dei conta do recado, graças a Fausto ter falado um milhão de vezes no meu ouvido. Acho que nunca contei essa história aqui, um dia eu conto!
Quando olhei para o catamarã ao lado, não estava ao lado e sim bem atrás de nós dando o costado, o catamarã estava garrando. Peguei a buzina e começei a fazer barulho. O americano também. Dai saiu um cara que era o tripulante do charter que não sabia o que fazer. Eu gritava para ele ligar os motores e ele respondia que não sabia como fazer, estava sozinho a bordo. A sorte é que a âncora dele voltou a unhar e o barco não foi para a praia. Nisso o cara começou a se desesperar e implorar para que eu fosse ajudá-lo. Nessa hora foi difícil. Fiquei sem saber se deveria deixar o nosso barco e ajudá-lo ou se deveria ficar a bordo caso o nosso barco também garrasse. O cara gritando, o vento soprando forte, eu não sabia o que fazer! Nessa hora o nosso barco deu um tranco. Corri e joguei mais corrente. E o cara gritando… Seria muito difícil eu conseguir baixar o nosso dingue com quarenta nós de vento sozinha. Ir nadando? E se o meu barco garrasse, como eu voltaria até ele? Pensei muito, mas não tinha como ajudá-lo. O Americano estava com a esposa a bordo. Colocou o dingue na água e foi até o catamarã. Ele tentou recolher a âncora, mas pela expressão dele quando viu o guincho desistiu, então ligou os motores, orientou o cara e retornou ao seu barco. Depois com os motores ligados, fui orientando para ele ficar de proa para o vento, mas nas rajadas ele não conseguia, o barco dava o costado para o vento e ele quase ia parar na praia novamente. Quase enfartei umas 10 vezes, fiquei rouca. Depois que o vento diminuiu, o americano foi em terra procurar o alemão proprietário do barco. Felizmente encontrou o sujeito que fundeou novamente. Um detalhe: Conhecemos esse barco em Cartagena, e lá ele garrou com os culos de Polo, os pirajás de lá. Em San Blás, a mesma coisa, com a entrada dos ventos fortes diários ele também garrou, e essa garrada de San Blás eu até tenho filmada! Ou seja, só que a gente sabe, esse catamarã garrou três vezes. Ou a âncora dele é ruim ou o cara não sabe fundear. Eu achei que ele jogou pouca corrente. Acontece, já aconteceu conosco por vários motivos diferentes. Já tivemos a sorte de um grupo de velejadores praticamente salvar o nosso barco em Vitória, neste caso,foi devido ao fundo ruim e informação errada. Pensando nisso eu fiquei com um peso na consciência. Uma situação difícil, que Deus seja testemunha que fiz o que pude. Felizmente, o pior não aconteceu.
Até a próxima,
Guta